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Mostrando postagens de 2018

Não chegue na hora marcada...

Sinto informar. O amor não é aquilo que chega quando estamos procurando. O amor aparece nas horas de distração. O amor tropeça na gente... transpassa... não pede desculpas e nem repara na bagunça. O amor bagunça. O amor tá aí prá te balançar, tirar da zona de conforto e te tirar o sono as três da manhã. O amor é imperfeito. Ele tá ali nos defeitos do outro que você vê sim, porque o amor não é cego coisa nenhuma... ele é visionário, inclusive! O amor não é prá quem gosta de sossego. O amor te tira prá dançar às três da tarde. E o amor ás vezes assusta. Quando chega sorrateiro e sopra no teu ouvido uma piada ruim que te faz rir sem saber direito porque já que não tinha nenhuma graça. O amor te faz rir. Se tem uma coisa que o amor sabe fazer é rir. Rir assim sem motivo nenhum... quando ouve uma música que te lembra da pessoa.. quando vê um filme... uma flor desabrochando... o céu do Rio no fim da tarde. Porque o amor te faz reparar no céu do Rio no fim de tarde. O amor te bota atento àq...

Da Escrita

Escrita é liberdade. Quando eu escrevo eu boto no papel tudo o que tenho guardado dentro da alma... aquilo que o coração pulsa e que muitas vezes a boca cala. Eu coloco no papel o riso frouxo, o grito que não sai, o amor que não aconteceu, a dor amarga que machuca, a felicidade que transborda, a angústia latente que aprisiona. Escrita é liberdade. É meu momento borboleta. Quando escrevo posso troc ar as vírgulas dessa vida destrambelhada por pontos finais... posso trocar interrogações por reticências... abrir parenteses onde aspas insistem em se instalar. Escrevo a minha história da maneira que me convém... dou espaço aos devaneios... transformo meus medos em coragem e sigo em frente com o caminhar... quando escrevo sou livre de mim! (2012)

Fogo-Fátuo

Enquanto os outros procuravam as chaves, forçavam a maçaneta, tentando arrombar a porta, ele, sorrateiro, pulou a janela. Entrou como se já conhecesse a casa. Sentou na poltrona, tomou um café e quando vi já estava instalado do lado de dentro com suas malas e sem passagem de volta. Um coração mais curioso que os olhos... provavelmente porque não sabia ao certo onde estava se metendo. Pensei em lhe dizer que a casa era um caos e que ali era lugar de tormentas e furacões... mas quando vi só consegui lhe pedir que não reparasse a bagunça. Queria colocá-lo no porão para não fazer muito alarde. Cedo ou tarde ele vai partir, pensava enquanto procurava os lençóis, é melhor mesmo que fique em um local onde sua ausência não seja sentida pelos próximos hóspedes. Mas assim que subi as escadas ele estava lá, deitado em minha cama como se já lhe fosse lar. E eu que lhe pensei fogo-fátuo percebi que embora carregasse o mar dentro dos olhos, isso não lhe apagava as chamas. Estranhei num primeiro mome...

18

Hoje faz um ano inteiro do amor que só viveu pela metade. Um ano inteiro dessa não-relação mais íntima e intensa que já tive. Desse teu me conhecer preciso do qual nunca tive como me esquivar. Um ano inteiro de mais saudades do que encontros. Impossível. Parecia uma eternidade. Desde o primeiro dia 18 eu te conheço desde sempre. Cê era tipo espelho e nunca vi alguém tão parecido comigo. Acho que era nisso que eu encrencava. É tão difícil se encontrar assim no outro e ver todas as nossas falhas, os nossos espaços não preenchidos, nossas imperfeições e nossas marcas. Olhar prá você sempre foi como olhar prá dentro de mim. Te transformei em poesia centenas de vezes que era um jeito de te materializar dessa minha maneira torta. Você me prendia em fotografias. E me peguei aqui pensando que talvez seja o teu jeito de ter as pessoas à sua volta. Eu finjo que já não me importo mas todo dia amanheço esperando o "bundinha" ou alguma piada idiota. Não vem. A gente foi se perdendo como d...

Bem amada

Oblíqua e dissimulada Petulante, enluarada Mulher num corpo de menina   Um pouco bruxa, um tanto fada Chorando tempestades Em copos d'água De tigresa da íris cor de mel A gatinha manhosa e assustada Sou um fado de Gardel Tocado num baile da baixada Por vezes vaca profana Quase sempre sagrada Um pouco só Mas muito bem amada... Por mim.

Poema Afoito ou O Que Não Falo Mas Escrevo

corrente corrente corrente corrente corrente corrente corrente corrente corrente corrente corrente corrente corrente corrente corrente corrente corrente corrente corrente corrente corrente corrente corrente corrente corrente corrente corrente corrente que me prende em você. Água corrente desse rio de desencanto que insisto em ancorar meu barco. Em ti não encontro leito. Só desamparo. Desespero. Tormento. Um copo cheio desse teu go star vazio. Um bicho arredio buscando abrigo onde só tem relento, casa sem teto nem paredes onde me falta chão. Birra de menino em homem feito. Negando fogo pra quem oferece carvão. Teu peito é pedra. Essa couraça indestrutível que é teu coração. Eu tenho amor em brasa e disso não abro mão. Pode seguir por essa estrada sem trilho. Que eu... Ah! Eu sou meu próprio caminho e minha própria embarcação.

Abstinência

Me disseram que é sempre assim. A primeira semana é sempre a mais difícil. Os sintomas variam. Tremedeiras, a boca seca, o coração palpitando descompassado, a cabeça doendo, uma sensação de aperto no peito, falta de ar, desespero, angústia. A vontade incontrolável da recaída. A difícil resistência prá não desistir de tudo e tragar até a última ponta. Me disseram que é porque ainda tá ali presente na corrente sanguínea, na memória corporal, no gosto amargo da ausência daquilo que trazia a calma de volta pro dia a dia. Me disseram que é assim mesmo. Que a falta é quase insuportável. A gente tenta comer umas balas, substitui por doces, coca cola, músicas da Gal. Nada parece resolver. Só esqueceram de me dizer que não existe adesivo prá parar de te amar. E a abstinência de você não tem maço de Marlboro que alivie.

Poeminha Devaneio - Agosto de 2016.

Se não me queria, por que veio? Se não ia ficar, por que entrou? Antes nem tivesse batido na porta Eu já tinha até fechado as janelas. É despropósito tua visita rápida.  Não deu tempo nem de passar o café Coloquei um bolo bonito pra assar Você foi embora antes mesmo da visita começar. Pensei em trancar a casa. Aqui ninguém mais entra, chega! Ah! Azar! Vou deixar os cômodos todos abertos  Quarto sala cozinha banheiro  Entra e sai quem quer  Mas cuidado você se resolver voltar e adentar o porão  Lá vou deixar o teu canto Recanto pra quando quiser repousar  Vai ter tanta regalia, conforto, mordomia Que duvido que dessa vez Você não vai querer ficar! (Mboray menina pássaro notívago) Para um nariz pequeno.

Portuñol

En días de nostalgia Es más difícil disimular Lo mucho que te amo Y lo mucho que hay para amar Te escribo cartas de amor Que jamás te voy a enviar Minto estar bien Cuando sólo quiero llorar Yo cambio toda la soledad Por su compañía Y en cualquier idioma Prometo te amar todos los días

Da despedida

Como que vai embora de uma pessoa? Sei ir embora de lugares. Sou muito boa nisso. Sei arrumar as malas e partir. Ir embora dos lugares nunca foi uma grande dificuldade. Simplesmente se vai. Talvez seja fácil porque sabemos que os lugares estarão sempre ali. As pessoas não. Elas seguem. A gente segue também. Mas antes disso tem o caminho de partida. Esse dói. É longo e dolorido. Parece que arranca um órgão da gente. Arrancaram um pulmão eu acho. É a explicação prá essa falta d e ar só de pensar que amanhã não vai ter teu "bundinha" junto com alguma notícia mirabolante de alguma coisa totalmente inusitada. Ou uma foto foda que você vai dizer que tá horrível porque é sempre assim. Ou algum desenho que você vai chamar de rascunho, rabisco.. mas que é melhor do que qualquer coisa que eu poderia desenhar na vida. O vasinho que plantei ainda tá na tua casa? Será que já floriu? Será que ele vinga mais que esse amor que a gente cortou pela raiz antes mesmo de ver crescer as primeiras...

Da Solitude

Vou aproveitar essa véspera do famigerado dia dos namorados pra escrever sobre solidão. Eu sou uma pessoa solitária... E hoje falo isso assim.. sem peso ou medo algum. Sempre fui uma pessoa solitária.. ainda que por vezes eu ande em bando. Sou uma pessoa solitária desde a infância (e minha mãe está aqui pra não me deixar mentir!). Filha única (ao menos por um lado)... Passava horas do meu dia num quartinho cheio de brinquedos inventando histórias.. sozinha. Boa  parte do período escolar foi de recreios em biblioteca mergulhando em reinos de águas claras, ou sentada sozinha atrás da casinha de eletricidade brincando com os "dorme João". Fui uma adolescente tão solitária quanto. Embora tivesse muitos amigos. Eram tardes, noites e fins de semanas inteiros entre Sesc, Cauim e Teatro Municipal.. passeios solitários. Depois vieram as viagens.. muitas delas sozinha. Eu viajo muito sozinha. E adoro. Eu vou a restaurantes sozinha. A cinemas. A festas. Ando por aí desbravando o mundo...

Ceci n'est pas une déclaration d'amour...

Não é que eu faça o tipo romântica ou me comova em excesso com essas datas comerciais. Imagina. O signo é de ar. Permaneço aqui implacável e intacta com cada demonstração de afeto alheio em redes sociais. Desapegadíssima. Libriana.. a lua em aquário. Um coração mais gelado do que o inverno da Sibéria. Não que eu esteja com saudade e sinta sua falta até na implicância. Jamais. Não que eu queira tua companhia prá ir ali tomar sorvete,  subir trilha, tirar 278 fotos da mesma coisa (prá depois ouvir que nenhuma ficou boa), dormir no meio do filme, ouvir você fazendo umas piadas horríveis e trocar passeios por jogos de futebol. Não é que eu seja sensível e por vezes me pegue fazendo qualquer coisa que me distraia prá não pensar na distância e que eu queria mesmo era estar comendo uns temakis com você. Eu não planejo viagens e nem tenho listas de filmes prá usar como desculpa prá te ver. Nunca.. jamais... em nenhum momento dessa vida.. parei prá olhar você dormindo e mesmo irritada com ...

Nódoa - Inverno de 2018

Eu não vou nem tentar fingir indiferença. Seria em vão. Saio de perto e já sinto saudade. Fui embora num tchau definitivo. Só por fora. Por dentro o peito gritava: "volta, Juliana.. volta!". Vi seus olhos marejados. Vi sim. E me senti uma idota por imaginar que você não se importava. Era tão óbvio. O medo impede a gente de ver com clareza aquilo que está escancarado bem na nossa frente. Precisei da despedida. O coração, inquieto, não conseguia serenar. Subi as escadas corrend o. Desabei. Nunca foi tão difícil abrir aquela bendita porta verde. Sentei na escadaria num choro sentido, feito criança. Desabei. Saí andando num passo acelerado, como quem fugia de algum monstro no meio de uma floresta escura. Cheguei no Largo e pedi um café. Me trouxeram um copo d'água. "Desculpa, moça.. eu não sei o que aconteceu.. mas acho que você precisa disso". Bebi a água numa golada... Como quem quisesse beber junto todos os sentimentos do mundo. Parti. Pensei que longe seria ma...

Teo e O Dinossauro - Inverno de 2018

Estava caminhando até a balsa quando um carro parou do meu lado oferecendo carona. Um casal e duas crianças. Achei sensato aceitar. Logo que entrei no carro Teo, um garotinho de uns 4 anos, começou a puxar papo. Conversa vai, conversa vem.. Teo diz que adora dinossauros... E que tem um dinossauro na Ilha.. eu então olho pra ele e solto um "sério, Teo.. que medo! Acho que vou embora daqui então!"... Teo me olha com uma cara séria... Respira e diz em tom de bronca: "não pode ir  embora! Você é uma menina grande.. tem que ter coragem.. se o dinossauro vier vc olha pra ele bem brava e grita 'grrrrrr' e espanta ele! Ta bom!?"... Achei um conselho muito maduro pra um garoto de 4 anos. Agradeci. 29 anos nas costas e precisei aprender com um menino de 4 que quando a vida botar medo não pode ir embora.. é só ter coragem e olhar bem brava pra ela e gritar grrrrrr.... porque eu sou uma menina grande! É isso! Valeu, Teo!

Porque hoje é dia do amigo [3]

Aos amores que transmutei em amizade . Eu aprendi muito cedo uma coisa que eu acho um tanto difícil. Mas eu aprendi. Eu venho aprendendo. Quando eu tinha 15 anos eu me apaixonei por uma pessoa e não foi uma paixão pequenininha não. Como tudo o que eu sinto veio feroz, avassaladora, como um furacão... porque, felizmente ou infelizmente, é assim que eu sinto as coisas. Mas aí que não é que faltava amor da parte dele. Tinha amor sem paixão... tin ha amizade... tinha afeto e cumplicidade... e eu precisava escolher se aceitava o que ele tinha ali prá oferecer ou seguir caminho na distância. Eu achei então que aceitar o tipo de amor que ele podia dar era também um jeito de amá-lo. E daí foi transmutar paixão em qualquer outra coisa que coubesse ali para os dois. E demorou. Demorou anos. Muitos. Mas quando eu vi a gente tava na vida um do outro há um tempão e o que sobrou foi amizade, afeto e cumplicidade. Era o que importava. Paixão a gente encontra mais fácil. Tá. Não tão fácil. Mas a...

Porque hoje é dia do amigo [2]

Aos amigos por aí . Andariar pelo mundo é bom. Na verdade nem sei mais se é escolha. Eu simplesmente sigo. Porque não há o que fazer... uma vez que a gente vai... voltar não é mais uma opção. O preço da caminhada é a saudade. Por cada lugar que passo eu faço um amigo e levo comigo um pedacinho de outro alguém. É o que dá sentido à jornada. Os encontros. É por eles que eu me boto em trânsito. São as melhores escolas que já passei. São meus gran des mestres. Andar por aí me trouxe a possibilidade de encontrar com seres especiais, de conhecer histórias fantásticas e de quebra ganhei amigos que agora estão espalhados por diversos cantinhos do Brasil e desse mundo bonito. Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Goiás, Distrito Federal, Rio Grande do Norte, Argentina, Colômbia, Paraguai, Uruguai, México, Estados Unidos, Portugal, Bélgica, Espanha, Inglaterra, Itália... tem amigo em tanto canto que vou precis...

Porque hoje é dia do amigo [1]

Aos amigos daqui . Eu não tenho lar. Mas tenho recantos prá onde voltar. São braços amáveis, leais, seguros, confiáveis. Não tenho dinheiro, nem destino, nem bens materiais, nem essas coisas que chamamos de "sucesso"... mas digo sem medo que sou a pessoa mais rica do mundo. Eu tenho amigos. Eu não tenho inúmeros amigos. Mas eu tenho Bons amigos. Eu tenho amigos com os quais eu sei que posso contar. Tenho amigos que são lares doces e sempre abe rtos pro acolhimento. Tenho amigos que estão ao meu lado há quase 30 anos... há mais de 20... amigos de uma vida inteira que me dão o presente mais precioso dessa vida: a liberdade de ser eu mesma! Eles me aceitam assim.. na minha inconstância.. nas minhas ausências.. na minha vontade quase insana de desbravar cada pedaço do mundo e, por isso, quase nunca estar por perto. Eles sabem que estou ali de alguma forma... eu sei que eles estão bem aqui dentro de mim.. seja onde for. Sou afortunada. Mais rica do que qualquer político por ...

Latifúndio - de julho 2017

"Meu coração é latifúndio Terra fértil pra quem quiser plantar Minhas mãos carregam sementes Uma enxada e boa vontade para campos extensos arar Dos meus olhos brotam água Pra molhar a plantação E meus pés traçam caminhos firmes Fazendo demarcação Não é propriedade privada Tão pouco carrega cercas Mas aos amores que carrego comigo Ofereço-lhes minhas melhores colheitas"

Racunhos bobos sobre um fim de semana de caos e camomilas:

Caos 1. A máquina de guardar momentos morreu. Quebrou... igual ao coração da menina que fui. Maquina de guardar momentos é tipo o olho da gente... tem um espelhinho delicado que se bobiar.. puft.. já era. E eu bobiei. É.. justo agora que estávamos nos entendendo.. agora que o foco tomou jeito... que o cérebro entendeu um pouco que tem que ter paciência prá pensar composição... agora.. justo agora.. que a companhia par a tardes fotográficas em lugares "bonito um bocado" eram desculpas boas pros agridoces (re)encontros com quem o coração nutre carinho (e saudade.. ah.. a gente vai falar sobre saudade também.. calma aí...).. agora que as amigas queriam fotos... agora que Paraty virou segunda casa.. agora que vai entrar inverno e tem praia bucólica.. agora que eu tava gostando de fazer poesia com lentes e correção de cores.. agora. Mas é isso. Vai saber qual é a do universo, né!? Tem que respirar, engolir o choro e continuar andando por aí... fotografando memórias com as córne...

Racunhos bobos sobre um fim de semana de caos e camomilas

Camomila 1. Domingo. Paraty, RJ. Saí da casa onde estávamos um pouco ansiosa, como sempre. Esqueço o clelular. Não sou uma pessoa que entra em pânico quando o mundo virtual fica inalcansável... na verdade, certas vezes, até gosto. Me conecto mais ao mundo real. E tenho uma desculpa relevante para não responder as mensagens (que normalmente já não respondo mesmo). Mas domingo tinha maracatu... e eu não sabia onde era  e nem o horário. Minha comunicação era via instagram com João, um dos integrantes do grupo. Pensei em voltar prá casa para pegar o celular e garantir que encontraria o baque. Resolvi não voltar. Respira e segue o baile. É minha especialidade, afinal. Pouco antes das 18 horas. Fotografia pelas vielas... prá aproveitar a luz. Ele. Minha máquina havia quebrado no dia anterior. Uma tristeza. Mas isso faz parte do caos. Anedota pr'uma outra hora. Eu, ainda ansiosa, pensando em como iria encontrar aquelas pessoas que eu nunca havia visto na vida. Eis que no meio da tardin...

Costume

Me acostumei. Com teu fogo baixo. Com tua fala mansa. Teus ruídos estranhos e teu jeito indecifrável de me olhar. Me acostumei. Com tuas piadas ruins. Com tua culinária regada a shoyo. Com os filmes muito bem selecionados que eu adoro mas sempre durmo na metade. Me acostumei. Com a paisagem da BR. Com o trânsito na Brasil. Com a sina de conseguir um santo motorista que suba as ruas de paralelepípedo que dão para o seu prédio. Me acostumei. Com nossas risadas. Com as aventuras compartilhadas. Com as fotografias e os desenhos que nunca te satisfazem mas me arrancam encantamentos e uma certa inveja. Me acostumei. Com a nossa implicância mútua. Com os travesseiros voando na cara. Com as cutucadinhas prá chamar atenção. Me acostumei. Com a inquietude que me causa. Com teu jeito distante. Com meu medo de me aproximar. Me acostumei. Com tua palavra por vezes debochada transformando meu gostar em carência. Com o jeito por vezes brusco com que afasta o corpo ao primeiro sinal de toque. Com essa...

8 de Março

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Desassossego

Tem um bicho chamado Desassossego Visita ingrata Aparece sem ser convidado Me fita, me laça, ameaça fazer estrago Finjo que não ligo Ele grita de pirraça Me dói a cabeça, o estômago, atravessa as vísceras Quando vejo, Já me fez casa Bichinho inconsequente Quando percebe minha calmaria Faz algazarra, por birra, me tira do lugar Se estou confortável, lá vem ele me falar ao pé do ouvido: “Duvido!” E logo já estou a “desassossegar” Se prego desapego Lá vem ele, o Desassossego, Com sua mala cheia de bagagens passadas Monstros desalmados e inseguranças infantis: “Será?” Então me vejo em desespero Choro, ameaço me matar Ele vem com cafuné Me faz café, coloca pra ninar Eu ali desacreditada Tento de qualquer jeito Convencê-lo a encontrar nova morada É quando, então, Ele para, me olha em silêncio e em seguida dispara: “Calma, não tem mistério nem nada.. É só amor, causando euforia, nessa sua alma desassossegada”.