Não chegue na hora marcada...

Sinto informar. O amor não é aquilo que chega quando estamos procurando. O amor aparece nas horas de distração. O amor tropeça na gente... transpassa... não pede desculpas e nem repara na bagunça. O amor bagunça. O amor tá aí prá te balançar, tirar da zona de conforto e te tirar o sono as três da manhã. O amor é imperfeito. Ele tá ali nos defeitos do outro que você vê sim, porque o amor não é cego coisa nenhuma... ele é visionário, inclusive! O amor não é prá quem gosta de sossego. O amor te tira prá dançar às três da tarde. E o amor ás vezes assusta. Quando chega sorrateiro e sopra no teu ouvido uma piada ruim que te faz rir sem saber direito porque já que não tinha nenhuma graça. O amor te faz rir. Se tem uma coisa que o amor sabe fazer é rir. Rir assim sem motivo nenhum... quando ouve uma música que te lembra da pessoa.. quando vê um filme... uma flor desabrochando... o céu do Rio no fim da tarde. Porque o amor te faz reparar no céu do Rio no fim de tarde. O amor te bota atento àquilo que antes era só rotina, coisa boba sem importância. O amor não é só alegria. O amor ás vezes sangra. O amor sangra mas não dói. Cuidado! Se doer não é amor. O amor não chega em um cavalo branco. Ás vezes ele vem de ônibus... ás vezes ele vem a pé depois de uma conversa em um aplicativo. O amor é ridículo. O amor bota a gente bobo e de repente percebemos que o horário de expediente já acabou mas ainda estamos sentados ali olhando prá tela do computador lembrando daquela noite no cais. Chuviscava. A gente planejava roubar um barco, mas ficamos com preguiça. Eu te dei uma flor de folha de bananeira. A gente ia tomar cachaça mas eu acabei pedindo cerveja. E então quando notamos estamos ali falando em primeira pessoa e perdendo toda a coesão.. a coerência... porque o amor não é coeso e nem coerente. É desconexo, descompassado. O amor não tem rima nem métrica. E tudo bem se a poesia faltar. A gente escreve o amor em prosa. O amor move! O amor te tira da cama às sete da manhã. O amor te faz querer atravessar 300 e tantos quilômetros. Porque o amor te bota prá caminhar! O amor também gosta de Netflix e preguiça de domingo, é claro que gosta! Mas ele te faz sentir que a vida precisa ser vivida em sua plenitude e quando percebemos o amor já te matriculou em um curso de culinária, você faz natação no intervalo do trabalho e aprende sobre pacote adobe, pintura, dinossauros, mini móveis de papel paraná... embora não faça ideia do que seja isso. O amor te faz uma pessoa incrível. O amor faz você se olhar no espelho e pensar "nossa! que pessoa maravilhosa que eu sou!". Porque o amor só existe fora depois que ele brota do lado de dentro. O amor chega assim sem mais nem menos e quando você vê o amor tá ali... nos detalhes do teu dia a dia.. na tua respiração... deitado no teu sofá com os pés pro alto sem a menor pretensão de ir embora. O amor nasce da disposição.. da disponibilidade.. da abertura do peito e da vulnerabilidade que isso causa. Porque o amor ás vezes caga de medo... mas também caga pro medo e quando vê tá ele ali pulando do precipício rezando prá ter água suficiente embaixo. E tem. E o amor mergulha mas não se afoga. O amor é festa. É música do Caetano na voz de Bethânea. O amor é fogo. E não queima mas arde. E tem sol em escorpião. O amor ás vezes nem sabe que é amor. E talvez não seja. Mas eu acredito que se ele existe mesmo... deve ter o gosto das nossas bocas quando dançam juntas.

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