Fogo-Fátuo
Enquanto os outros procuravam as chaves, forçavam a maçaneta, tentando arrombar a porta, ele, sorrateiro, pulou a janela. Entrou como se já conhecesse a casa. Sentou na poltrona, tomou um café e quando vi já estava instalado do lado de dentro com suas malas e sem passagem de volta. Um coração mais curioso que os olhos... provavelmente porque não sabia ao certo onde estava se metendo. Pensei em lhe dizer que a casa era um caos e que ali era lugar de tormentas e furacões... mas quando vi só consegui lhe pedir que não reparasse a bagunça. Queria colocá-lo no porão para não fazer muito alarde. Cedo ou tarde ele vai partir, pensava enquanto procurava os lençóis, é melhor mesmo que fique em um local onde sua ausência não seja sentida pelos próximos hóspedes. Mas assim que subi as escadas ele estava lá, deitado em minha cama como se já lhe fosse lar. E eu que lhe pensei fogo-fátuo percebi que embora carregasse o mar dentro dos olhos, isso não lhe apagava as chamas. Estranhei num primeiro momento mas antes que pudesse dizer algo ele me acolheu no colo... seu cabelo brasa ardia mas não queimava. Não roubamos um barco, mas remamos histórias na correnteza da noite. É bem possível que seu sol escorpião o leve para outros portos assim que o verão passar... mas quem sabe de repente, por algum descuido da gente... esse novembro se transforme em primavera...
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