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Mostrando postagens de agosto, 2018

Abstinência

Me disseram que é sempre assim. A primeira semana é sempre a mais difícil. Os sintomas variam. Tremedeiras, a boca seca, o coração palpitando descompassado, a cabeça doendo, uma sensação de aperto no peito, falta de ar, desespero, angústia. A vontade incontrolável da recaída. A difícil resistência prá não desistir de tudo e tragar até a última ponta. Me disseram que é porque ainda tá ali presente na corrente sanguínea, na memória corporal, no gosto amargo da ausência daquilo que trazia a calma de volta pro dia a dia. Me disseram que é assim mesmo. Que a falta é quase insuportável. A gente tenta comer umas balas, substitui por doces, coca cola, músicas da Gal. Nada parece resolver. Só esqueceram de me dizer que não existe adesivo prá parar de te amar. E a abstinência de você não tem maço de Marlboro que alivie.

Poeminha Devaneio - Agosto de 2016.

Se não me queria, por que veio? Se não ia ficar, por que entrou? Antes nem tivesse batido na porta Eu já tinha até fechado as janelas. É despropósito tua visita rápida.  Não deu tempo nem de passar o café Coloquei um bolo bonito pra assar Você foi embora antes mesmo da visita começar. Pensei em trancar a casa. Aqui ninguém mais entra, chega! Ah! Azar! Vou deixar os cômodos todos abertos  Quarto sala cozinha banheiro  Entra e sai quem quer  Mas cuidado você se resolver voltar e adentar o porão  Lá vou deixar o teu canto Recanto pra quando quiser repousar  Vai ter tanta regalia, conforto, mordomia Que duvido que dessa vez Você não vai querer ficar! (Mboray menina pássaro notívago) Para um nariz pequeno.

Portuñol

En días de nostalgia Es más difícil disimular Lo mucho que te amo Y lo mucho que hay para amar Te escribo cartas de amor Que jamás te voy a enviar Minto estar bien Cuando sólo quiero llorar Yo cambio toda la soledad Por su compañía Y en cualquier idioma Prometo te amar todos los días

Da despedida

Como que vai embora de uma pessoa? Sei ir embora de lugares. Sou muito boa nisso. Sei arrumar as malas e partir. Ir embora dos lugares nunca foi uma grande dificuldade. Simplesmente se vai. Talvez seja fácil porque sabemos que os lugares estarão sempre ali. As pessoas não. Elas seguem. A gente segue também. Mas antes disso tem o caminho de partida. Esse dói. É longo e dolorido. Parece que arranca um órgão da gente. Arrancaram um pulmão eu acho. É a explicação prá essa falta d e ar só de pensar que amanhã não vai ter teu "bundinha" junto com alguma notícia mirabolante de alguma coisa totalmente inusitada. Ou uma foto foda que você vai dizer que tá horrível porque é sempre assim. Ou algum desenho que você vai chamar de rascunho, rabisco.. mas que é melhor do que qualquer coisa que eu poderia desenhar na vida. O vasinho que plantei ainda tá na tua casa? Será que já floriu? Será que ele vinga mais que esse amor que a gente cortou pela raiz antes mesmo de ver crescer as primeiras...

Da Solitude

Vou aproveitar essa véspera do famigerado dia dos namorados pra escrever sobre solidão. Eu sou uma pessoa solitária... E hoje falo isso assim.. sem peso ou medo algum. Sempre fui uma pessoa solitária.. ainda que por vezes eu ande em bando. Sou uma pessoa solitária desde a infância (e minha mãe está aqui pra não me deixar mentir!). Filha única (ao menos por um lado)... Passava horas do meu dia num quartinho cheio de brinquedos inventando histórias.. sozinha. Boa  parte do período escolar foi de recreios em biblioteca mergulhando em reinos de águas claras, ou sentada sozinha atrás da casinha de eletricidade brincando com os "dorme João". Fui uma adolescente tão solitária quanto. Embora tivesse muitos amigos. Eram tardes, noites e fins de semanas inteiros entre Sesc, Cauim e Teatro Municipal.. passeios solitários. Depois vieram as viagens.. muitas delas sozinha. Eu viajo muito sozinha. E adoro. Eu vou a restaurantes sozinha. A cinemas. A festas. Ando por aí desbravando o mundo...

Ceci n'est pas une déclaration d'amour...

Não é que eu faça o tipo romântica ou me comova em excesso com essas datas comerciais. Imagina. O signo é de ar. Permaneço aqui implacável e intacta com cada demonstração de afeto alheio em redes sociais. Desapegadíssima. Libriana.. a lua em aquário. Um coração mais gelado do que o inverno da Sibéria. Não que eu esteja com saudade e sinta sua falta até na implicância. Jamais. Não que eu queira tua companhia prá ir ali tomar sorvete,  subir trilha, tirar 278 fotos da mesma coisa (prá depois ouvir que nenhuma ficou boa), dormir no meio do filme, ouvir você fazendo umas piadas horríveis e trocar passeios por jogos de futebol. Não é que eu seja sensível e por vezes me pegue fazendo qualquer coisa que me distraia prá não pensar na distância e que eu queria mesmo era estar comendo uns temakis com você. Eu não planejo viagens e nem tenho listas de filmes prá usar como desculpa prá te ver. Nunca.. jamais... em nenhum momento dessa vida.. parei prá olhar você dormindo e mesmo irritada com ...

Nódoa - Inverno de 2018

Eu não vou nem tentar fingir indiferença. Seria em vão. Saio de perto e já sinto saudade. Fui embora num tchau definitivo. Só por fora. Por dentro o peito gritava: "volta, Juliana.. volta!". Vi seus olhos marejados. Vi sim. E me senti uma idota por imaginar que você não se importava. Era tão óbvio. O medo impede a gente de ver com clareza aquilo que está escancarado bem na nossa frente. Precisei da despedida. O coração, inquieto, não conseguia serenar. Subi as escadas corrend o. Desabei. Nunca foi tão difícil abrir aquela bendita porta verde. Sentei na escadaria num choro sentido, feito criança. Desabei. Saí andando num passo acelerado, como quem fugia de algum monstro no meio de uma floresta escura. Cheguei no Largo e pedi um café. Me trouxeram um copo d'água. "Desculpa, moça.. eu não sei o que aconteceu.. mas acho que você precisa disso". Bebi a água numa golada... Como quem quisesse beber junto todos os sentimentos do mundo. Parti. Pensei que longe seria ma...

Teo e O Dinossauro - Inverno de 2018

Estava caminhando até a balsa quando um carro parou do meu lado oferecendo carona. Um casal e duas crianças. Achei sensato aceitar. Logo que entrei no carro Teo, um garotinho de uns 4 anos, começou a puxar papo. Conversa vai, conversa vem.. Teo diz que adora dinossauros... E que tem um dinossauro na Ilha.. eu então olho pra ele e solto um "sério, Teo.. que medo! Acho que vou embora daqui então!"... Teo me olha com uma cara séria... Respira e diz em tom de bronca: "não pode ir  embora! Você é uma menina grande.. tem que ter coragem.. se o dinossauro vier vc olha pra ele bem brava e grita 'grrrrrr' e espanta ele! Ta bom!?"... Achei um conselho muito maduro pra um garoto de 4 anos. Agradeci. 29 anos nas costas e precisei aprender com um menino de 4 que quando a vida botar medo não pode ir embora.. é só ter coragem e olhar bem brava pra ela e gritar grrrrrr.... porque eu sou uma menina grande! É isso! Valeu, Teo!

Porque hoje é dia do amigo [3]

Aos amores que transmutei em amizade . Eu aprendi muito cedo uma coisa que eu acho um tanto difícil. Mas eu aprendi. Eu venho aprendendo. Quando eu tinha 15 anos eu me apaixonei por uma pessoa e não foi uma paixão pequenininha não. Como tudo o que eu sinto veio feroz, avassaladora, como um furacão... porque, felizmente ou infelizmente, é assim que eu sinto as coisas. Mas aí que não é que faltava amor da parte dele. Tinha amor sem paixão... tin ha amizade... tinha afeto e cumplicidade... e eu precisava escolher se aceitava o que ele tinha ali prá oferecer ou seguir caminho na distância. Eu achei então que aceitar o tipo de amor que ele podia dar era também um jeito de amá-lo. E daí foi transmutar paixão em qualquer outra coisa que coubesse ali para os dois. E demorou. Demorou anos. Muitos. Mas quando eu vi a gente tava na vida um do outro há um tempão e o que sobrou foi amizade, afeto e cumplicidade. Era o que importava. Paixão a gente encontra mais fácil. Tá. Não tão fácil. Mas a...

Porque hoje é dia do amigo [2]

Aos amigos por aí . Andariar pelo mundo é bom. Na verdade nem sei mais se é escolha. Eu simplesmente sigo. Porque não há o que fazer... uma vez que a gente vai... voltar não é mais uma opção. O preço da caminhada é a saudade. Por cada lugar que passo eu faço um amigo e levo comigo um pedacinho de outro alguém. É o que dá sentido à jornada. Os encontros. É por eles que eu me boto em trânsito. São as melhores escolas que já passei. São meus gran des mestres. Andar por aí me trouxe a possibilidade de encontrar com seres especiais, de conhecer histórias fantásticas e de quebra ganhei amigos que agora estão espalhados por diversos cantinhos do Brasil e desse mundo bonito. Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Goiás, Distrito Federal, Rio Grande do Norte, Argentina, Colômbia, Paraguai, Uruguai, México, Estados Unidos, Portugal, Bélgica, Espanha, Inglaterra, Itália... tem amigo em tanto canto que vou precis...

Porque hoje é dia do amigo [1]

Aos amigos daqui . Eu não tenho lar. Mas tenho recantos prá onde voltar. São braços amáveis, leais, seguros, confiáveis. Não tenho dinheiro, nem destino, nem bens materiais, nem essas coisas que chamamos de "sucesso"... mas digo sem medo que sou a pessoa mais rica do mundo. Eu tenho amigos. Eu não tenho inúmeros amigos. Mas eu tenho Bons amigos. Eu tenho amigos com os quais eu sei que posso contar. Tenho amigos que são lares doces e sempre abe rtos pro acolhimento. Tenho amigos que estão ao meu lado há quase 30 anos... há mais de 20... amigos de uma vida inteira que me dão o presente mais precioso dessa vida: a liberdade de ser eu mesma! Eles me aceitam assim.. na minha inconstância.. nas minhas ausências.. na minha vontade quase insana de desbravar cada pedaço do mundo e, por isso, quase nunca estar por perto. Eles sabem que estou ali de alguma forma... eu sei que eles estão bem aqui dentro de mim.. seja onde for. Sou afortunada. Mais rica do que qualquer político por ...

Latifúndio - de julho 2017

"Meu coração é latifúndio Terra fértil pra quem quiser plantar Minhas mãos carregam sementes Uma enxada e boa vontade para campos extensos arar Dos meus olhos brotam água Pra molhar a plantação E meus pés traçam caminhos firmes Fazendo demarcação Não é propriedade privada Tão pouco carrega cercas Mas aos amores que carrego comigo Ofereço-lhes minhas melhores colheitas"