Ressaca

Peguei um barco e segui. Onda. Onda. Onda. Finalmente, calmaria. Me lancei em alto mar. Não dava pé. Quase me afoguei. Ainda me pergunto como um mar que parecia tão límpido num azul infinito, podia ter águas tão turvas quando visto de perto. Segui no mergulho. Hora ou outra feixes de luz iluminavam o azul oceânico. Dali de dentro eu conseguia ver peixinhos dourados, estrelas-do-mar e cavalos marinhos. Repetia a frase que há tempos carregava comigo: "mar calmo nunca fez bom marinheiro". Subi prá respirar. Não havia mais barco. Apenas meu corpo magro, miúdo, despido de qualquer armadura. Não havia escafandro. Quando dei por mim eu já era o próprio mar e minha pele branca se fundia no vai e vem das espumas. Não havia porto, cais, nem ao menos farol ao longe onde eu pudesse avistar socorro. Era eu e o mar, ainda que não mais pudesse distinguir qual de nós era sangue ou sal. Tentei braçadas e nados borboletas. Desisti. Não havia mais o que fazer. Meu corpo entregue ao mar. Fundido em suas águas. E um sol brilhando em câncer, vento de Iansã trazendo furacão. Um tsunami. Mar, cidade, corpo, sentimentos. 

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